“Per multas tribulationes oportet nos intrare in Regnum Dei” (At 14,22)
“É necessário passar por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”
O caminho da cruz foi percorrido com espírito apostólico pela Serva de Deus Serafina Gregoris (no século Vittoria) a qual, acometida em jovem idade por uma doença incurável, participou dos sofrimentos de Cristo e foi instrumento de consolação a todos quantos estavam ao seu redor, tornando-se assim digna do Reino dos Céus.
Esta autêntica seguidora de São Francisco de Assis nasceu em Fiume Veneto (Província de Pordenone) no dia 15 de Outubro de 1873, de uma família de condições modestas que lhe assegurou uma boa formação cristã.
Cursou as escolas elementares em Bannia, distinguindo-se por inteligência e bondade. Em 1886 entrou na associação das “Filhas de Maria” de que, depois, se tornaria presidente. Para ajudar a família, que se encontrava em dificuldades econômicas, trabalhou por alguns anos em uma fábrica de algodão da sua cidade natal. Participava todos os dias da Santa Missa e era assídua na frequência dos Sacramentos.
Amadurecida a vocação à vida consagrada, em novembro de 1894 entrou no Instituto das Irmãs Franciscanas de Cristo Rei, em Veneza. No dia 05 de fevereiro do ano seguinte vestiu o habito religioso e assumiu o nome de Irmã Serafina dos Anjos. No dia 06 de fevereiro 1896 emitiu a profissão. Dedicou-se em seguida à evangelização dos jovens. Após um ano da profissão apenas, começou a sentir os primeiros sintomas da doença de Pott.
Inicialmente, não querendo abandonar o próprio campo de apostolado, suportou em silêncio a dor e com admirável fortaleza manteve fé em todos os compromissos. Mesmo quando foi obrigada a usar as muletas, continuou desenvolvendo as missões que lhe eram confiadas e, ainda que nem as muletas se revelaram suficientes para sustentá-la, fazia-se acompanhar pelas coirmãs até o lugar do trabalho apostólico. Suas condições físicas, porém, pioraram progressivamente e foi obrigada à imobilidade total. Nos anos 1918-1919, por causa do estouro da 1ª Guerra Mundial, foi internada no Hospital São Gallo de Florença, e após o fim do conflito, voltou ao Convento de Veneza.
Encontrou na oração o alimento espiritual necessário para conseguir e manter a serenidade e a paz interior. Tornou-se um ponto de referência para as coirmãs que acorriam numerosas até o seu quarto afim de encontrar conforto e conselho. Aderiu incondicionalmente aos planos do Senhor, a ponto de repetir muitas vezes: “Eu fico contente em fazer a vontade de Deus”, e percorreu com perseverança o caminho do Calvário conformando-se a Cristo crucificado.
A fé iluminou-a e sustentou-a no enfrentamento da dura prova da doença. Jamais perdeu a esperança e abandonou-se confiantemente nas mãos da Providência. Incentivou os próprios familiares a fazerem o mesmo, na consciência de que os sofrimentos do momento presente não são comparáveis à glória futura (Cf. Rm 8,18). Foi devota da Eucaristia e da Virgem Santíssima. Amou o Senhor com todas as forças, observou seus mandamentos e, através do cumprimento dos próprios deveres, a observância da Regra e a prática dos Conselhos Evangélicos, alcançou uma união sempre maior com Ele. Com seus sofrimentos procurou cooperar com a dilatação do Reino de Cristo e esteve espiritualmente próxima a todos quantos anunciavam o Evangelho em terras não evangelizadas, a ponto de repetir muitas vezes: “Pode-se ser missionários mesmo permanecendo aqui, e saibamos sofrer com paciência, oferecendo tudo ao Senhor pelas missões e pelos missionários”, imitando nisto o exemplo de outras almas generosas. Foi caridosa para com o próximo e especialmente com as coirmãs, a quem exortava a agir em conformidade com a própria vocação.
Foi prudente, justa, paciente. Não se deixou levar pelas autocomiserações, lamentações ou choros. Deu prova constante de simplicidade, de humildade, de desapego de si mesma e dos bens terrenos e desde a juventude mortificou os sentidos com o exercício da penitência, vivendo em plenitude a espiritualidade franciscana.
Mesmo nas últimas horas de vida foi muito atenciosa com quem a assistia. Um pouco antes de expirar, pronunciou o nome do Divino Redentor, a quem tinha se oferecido em holocausto de amor e que a chamou a si no dia 30 de Janeiro de 1935.
Em consideração da imediata fama de santidade, o Patriarca de Veneza encaminhou a Causa de beatificação e canonização com a celebração do processo Diocesano nos anos 1986-1987. A validade jurídica de tal processo foi reconhecida pela Congregação das Causas dos Santos com decreto de 15 de maio de 1992. Preparada a Positio, discutiu-se, segundo o procedimento usual, se a Serva de Deus tinha exercido em grau heróico as virtudes. Com êxito positivo a 16 de dezembro de 2003 realizou se o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogos. Os Padres Cardeais e Bispos em Sessão Ordinária de 18 de maio de 2004, ouvido o relatório do expositor da Causa, Excelentíssimo Monsenhor Ottorino Pietro Alberti, Arcebispo Emérito de Cágliari, reconheceram que a Serva de Deus exerceu em grau heróico as virtudes teologais, cardeais e anexas.
Feito um relatório cuidadoso de tudo quanto acima ao Sumo Pontífice João Paulo II pelo abaixo assinado Prefeito, Sua Santidade, acolhendo os votos da Congregação das Causas dos Santos e tendo-os ratificado, ordenou preparar o Decreto sobre as Virtudes Heróicas da Serva de Deus.
Executado tudo quanto estabelecido, convocados hoje o abaixo assinado Prefeito, o Relator da Causa e a mim Arcebispo Secretário da Congregação e os demais que ordinariamente se costuma convocar, diante da presença deles, o Beatíssimo Pai declarou solenemente: Confere o exercício heróico das virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade, seja para com Deus e seja para com o próximo, além das virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Fortaleza e Temperança e daquelas anexas, por parte da Serva de Deus Serafina Grégoris (no século Vittoria), Religiosa Professa das Irmãs Franciscanas de Cristo Rei de Veneza, para fim e efeito da Causa em objeto.
O Sumo Pontífice ordenou, ademais, que este Decreto fosse tornado de domínio público e que em seguida fosse conservado nas ATAS da Congregação das Causas dos Santos.
Dado em Roma no dia 22 de junho do Ano do Senhor de 2004
JOSÉ CARD. SARAIVA MARTINS
Prefeito
EDWARD NOWAK tit. de Luni
Secretário
Tradução em língua portuguesa da língua italiana, do original em língua latina aos cuidados da Postulação da Causa.
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